Um retrato brasileiro

As crianças gostam de repetição pois temem nunca mais sentir novamente o prazer da primeira vez. Assistem dezenas de vezes ao mesmo desenho, num intervalo de tempo curto, não porque não gostam de outra coisa, mas apenas porque querem ter novamente a sensação boa da vez anterior.

Querem também ter o domínio da situação. Antecipar frases, enredos, mostrar que sabem o que estão fazendo.

Dunga agiu como uma criança hoje. Armou a seleção da mesma forma como das vezes anteriores em que o Brasil venceu a Argentina. Mas ele esqueceu que no último jogo, pelas eliminatórias, o empate mostrou que o técnico não tem mais o elemento repetidor a seu favor. Porque do outro lado não tem nenhuma criança.

A Argentina já sabe como vencer o Brasil de Dunga. Provavelmente, enfiará uma goleada na partida de volta das eliminatórias, caso Dunga ainda esteja no cargo.

Assim como o bebê-mor, os jogadores reagiram tal qual. Pontapés, faltas desleais, coisa de criança contrariada, mimada, que destrói um brinquedo antigo quando não ganha um novo. Anderson foi covarde, assim como Lucas e Thiago Neves.

Reflexo da falta de comanda fora de campo - e dentro também. Afinal, cabe ao capitão colocar ordem no time e perdir calma. Mas Ronaldinho Gaúcho não escapou da mediocridade, ao se calar e distribuir pontapés - nem ao menos pressionar o juiz ele fez.

Retrato de um Brasil infantil, que usa retórica para explicar atuações, que tem no comando um técnico que não é técnico nem motivador e que desperdiça uma geração talentosa sem ao menos mostrar maturidade de quem deveria ter.