sábado, 8 de maio de 2010

Minha Copa Inesquecível

Ano de Copa, documentários, coleções, álbuns de figurinhas pipocam falando de Copas antigas, os artilheiros, craques, grandes jogos. Época ideal para todo mundo virar especialista em história das Copas mas nada se assemelha à experiência de ver e viver uma. Por isso a Copa de 1994 nos EUA é minha Copa inesqucível.

Eu era muito novo nos torneios anteriores e nos seguintes a faculdade (1998), horário (2002) e trabalho (2006) me impediram de ver os jogos como vi em 1994, em plenas férias do meio do ano. Vi praticamente todos os jogos, por um tempo eu sabia o placar de TODOS eles de cabeça. Guardei recortes, comprei cards (acompanhando a moda dos cards do campeonato italiano). Além disso tudo eu ainda vi o Brasil ser campeão do mundo pela primeira vez!!



Sei que muitos amantes mais antigos do futebol torcem o nariz para a Seleção de 1994, eu entendo, compará-la com as que jogaram em 1958, 62, 70 e 82, que não levamos, é covardia. Mas, pô, dá licença, foi a seleção que E vi ser campeã do mundo, foi a que eu mais torci! Além do mais, ela entrou naquele torneio para vencer, abriu mão do jogo bonito, nos deu o título que precisávamos e esperávamos há 24 anos. Mas, sejamos honestos, era um time com qualidades, bons jogadores, impunha respeito, medo. Não foi brilhante no meio de campo mas tinha uma defesa sólida, bateu o recorde de menos gols sofridos, apenas 3 (que a França bateu na Copa seguinte com 2, ok). Tivemos naquele time o último lateral direito digno da camisa 2 da Seleção, Jorginho (aquele cruzamento contra a Suécia deixa saudades), do outro lado Leonardo e Branco também mostravam a força do time. E na frente? Me digam, que time do mundo hoje não gostaria de ter um ataque com Bebeto e Romário? Que defesa hoje não teria arrepios ao pensar em enfrentar esses dois, aqueles dois que fizeram uma das maiores duplas de ataque do nosso futebol? Alguém discorda da habilidade, categoria e poder de decisão deles?



Nossa Seleção acabou ficando sem um camisa 10 pois Raí, que era o capitão, não jogou o que se esperava, foi barrado, substituído por Mazinho e a braçadeira foi para Dunga. Aliás, foi a primeira vez que jogadores usaram os nomes nas camisas e os juízes deixaram de usar só preto.

Dessa Copa eu também lembro de ter visto um dos maiores goleiros da história, o belga Preud'homme, que, curiosamente, levou um dos gols mais belos da história do campeonato, do saudita Saed Owairan, que driblou todo mundo partindo do meio de campo. O belga protagonizou outra cena famosa daquele ano ao partir para a área adversária no final do jogo contra a Alemanha nas oitavas de final para tentar evitar a eliminação do seu time por 3x2. No filme oficial da Copa um americano conta que essa foi a cena mais marcante para ele do campeonato. Nesse jogo ocorreu um dos maiores erros de arbitragem da história quando o juiz não deu um pênalti em que DOIS alemães empurraram um belga na área. Mais tarde ele admitiu o erro.

Nessa copa um jogador, o russo Oleg Salenko, bateu o recorde de gols marcados em um só jogo ao marcar 5 contra Camarões na maior goleada da Copa, 6x1. O gol camaronês foi marcado pelo herói nacional Roger Milla, que se tornou o homem mais velho a marcar gols em Copas. Salenko nunca mais arrumou nada no futebol e hoje pensa em vender seu troféu de artilheiro desta Copa para os árabes para fugir da falência.

Nessa copa uma trave de gol foi quebrada, os jogadores tentaram prender a rede numa câmera que ficava perto mas o arco foi trocado no meio do jogo (o recorte do jornal da época está preso no quadro de avisos do meu quarto, não me perguntem porque). Foi no jogo México e Bulgária. Aliás, a Bulgária teve um dos artilheiros da Copa. Ao lado de Salenko, Hristo Stoichkov, parceiro de Romário no Barcelona, marcou 6 gols. A Bulgária também teve o mérito de eliminar a então campeã Alemanha, de virada.

A surpresa africana dessa vez foi a Nigéria, que bateu a Argentina e ia eliminando a Itália mas menosprezou a seleção tricampeã mundial (como seu técnico contou mais tarde) e acabaram levando uma virada com dois gols de Roberto Baggio, que era o melhor jogador do mundo na época mas ficou marcado por perder o último pênalti na final contra o Brasil. Vale lembrar que ele e Baresi, que perdeu o outro pênalti, jogaram no sacrifício, com a perna machucada.

Essa Copa teve um romeno como um dos craques, o primeiro a surgir no torneio, Gheorghe Hagi. Foi a última participação de Maradona, que foi suspenso por dopping. Foi a penúltima de Lotthar Mattäus, um dos recordistas de participação com 5 copas nas costas. O recorde de público foi batido nessa Copa, logo nos EUA, país que não liga para o soccer. Aliás, os EUA acabaram eliminados nas oitavas de final, em um jogo dramático contra o Brasil, no dia de sua independência. As TVs americanas chamavam o público para torcer, os jornalistas brasileiros cobrindo a Copa ficaram assustados, temeram a desclassificação. O jogo foi sofrido, Leonardo, exemplo de bom comportamento e educação em campo, foi expulso ao dar uma cotovelada em Tab Ramos, que foi parar no hospital. O jogo ficou em 1x0, gol de Bebeto após genial jogada de Romário. A cena de Bebeto agradecendo dizendo "Eu te amo" para Romário é famosa.



Como é famosa a comemoração "nana-neném" feita por Romário, Bebeto e Mazinho durante o jogo contra a Holanda, homenagem ao filho recém nascido de Bebeto, Matheus. Esse jogo aliás estava fácil, 2x0 para o Brasil, mas complicou, os holandeses empataram. Antes do jogo o temor de Parreira, nosso técnico, era o ponta direita holandês, Marc Overmars, jogador extremamente rápido. Quem ia marcá-lo era Branco, jogador veterano, vindo de contusão, substituindo o suspenso Leonardo. Branco anulou Overmars de tal forma que ele nunca mais jogou na ponta direita. Ainda enfiou a mão na cara do holandês pouco antes de receber a falta que cobrou de forma magistral fazendo o terceiro gol do Brasil.

Nas eliminatórias nossos jogadores passaram a entrar de mãos dadas, o que durou até a derrota para a França em 1998. O que era símbolo de união virou motivo de ridículo e chacota no país. Foi a primeira Copa de Ronaldo, o Fenômeno, foi um dos uniformes mais feio que já tivemos, foi o tetra de Zagallo.

O título de 1994 também foi o momento de grande alegria para superar uma grande tristeza pois naquele ano o Brasil comemoraria dois tetras mas uma curva em primeiro de maio tirou a vida de Ayrton Sena, algo que foi lembrado pelos jogadores na comemoração do título.

Por tudo isso e mais um pouco, a Copa dos Estados Unidos de 1994 é a minha Copa Inesquecível.

PS: A campanha do Brasil
2x0 Rússia
3x0 Camarões
1x1 Suécia
1x0 EUA
3x2 Holanda
1x0 Suécia
0x0 (3x2)Itália

PS 2: Eu escrevi tudo isso de cabeça ;)

3 comentários:

Anna Flávia disse...

Boa, Daniel! Muito bom esse post!

Essa Copa sem dúvida é inesquecível, mas eu não lembraria mais de tantos detalhes.

Quem não queria um Bebeto e Romário no seu time? Eu queria demais.

Essa comemoração, realmente, é inesquecível.

A Copa de 94 foi toda especial.

Van disse...

Eu lembro vagamente da copa de 1990. Quase nada :(

Mas a de 94 realmente foi, sem dúvida, A copa pra galera da nossa idade!

Ótimo post, Dan!

beijão

Quini disse...

Coloquei o link dos Amadores FC no meu blog, aceitam parceria?

http://thiagoquini.blogspot.com/