quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Templo das Lágrimas

Todo brasileiro já deixou uma lágrima no Maracanã. Desde os idos de 1950 a história do choro tupiniquim se confunde com a do Maior do Mundo. Construído naquele ano para impressionar o mundo com sua majestade, o Estádio Mário Filho foi palco do inominável tantas vezes que seria impossível contar. Mas todos se lembram.


Todos lembram quando alguns centímetros calaram a multidão das multidões, ainda em 1950: O elástico Barbosa não alcançou a pelota e as arquibancadas foram lavadas por lágrimas fidalgas, dos tempos em que o futebol ainda era um desporto identificado com a aristocracia. A torrente de lamúrias transbordou e inundou as ruas do Rio naquela tarde. Alguns historiadores contam que cerca de dois terços da população carioca se encontravam nas imediações do estádio durante a final da Copa.


De lá pra cá, as lágrimas se multiplicaram. Lágrimas de alegria pra alguns, de tristeza pra outros, o Maracanã foi o pano de fundo para a gangorra de emoções que só o velho esporte bretão pode gerar. Tribos nasceram e morreram naquele campo de marte, como geraldinos, arquibaldos e tantas outras. Batalhas épicas mancharam o tapete verde com sangue e suor de valentes soldados que envergavam brasões em seus peitos. Mitos foram construídos dentro e fora das quatro linhas, quase todos irremediavelmente ligados àquela Meca: a metáfora não é imprópria. Um grande sábio já disse que se os ingleses inventaram um esporte, os brasileiros inventaram uma religião.

Uma religião que tem no Maracanã seu maior templo. Uma religião democrática, que põe ombro-a-ombro o capitalista e o operário, verdadeiro ópio das gentes desta terra. Uma religião onde se reza com os pés, com o coração e com os olhos. E boca e garganta que entoam verdadeiros hinos ecumênicos todo domingo. Ou quarta. Ou seja lá em que dia as travas das chuteiras marcarem o gramado. Uma religião que arrebata qualquer um que ousar se aventurar nas imediações de seu templo.

Muito se fala em outros tantos estádios pelo mundo. San Ciro, Camp Nou, Santiago Bernabéu, La Bombonera... nomes que perdem completamente o sentido ao se pronunciar as sílabas sagradas ma – ra – ca – nã.

Se alguém ainda duvida do caráter religioso do Mário Filho, basta dedicar uma tarde à contemplação. Rios de gente peregrinam para lá em toda sessão ecumênica. Se postam preferencialmente em locais onde se possa ter uma boa visão dos ritos, se exaltam, tal qual possuídos pelo santo espírito, no ápice da liturgia: o gol. A bola toca o barbante e a massa salta. Ou se cala. E é aí, e só aí, que se pode ter alguma noção do que é o Maracanã. Quando as lágrimas do religioso, como eu e você, toca o concreto levantado pelos titãs. Sejam lágrimas de felicidade ou de tristeza.

Visite o Maracanã!

Nome: Estádio Jornalista Mário Filho
Capacidade Atual: 82 238
Endereço: Professor Eurico Rabelo, s/n. Maracanã. Rio de Janeiro, RJ.
Inauguração: 16/06/1950

Por Carlos Henrique Vólaro (irmão de Vanessa Vólaro - Amadores F.C.)

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7 comentários:

Anna Flávia disse...

Valeu, Carlos Henrique!

E um dia chego aí! ;)

Alice Voll disse...

caracas, que catiguria, hein!

Alice Voll disse...

ainda quero deixar a minha lágrima lá, mas de alegria!

ítalo puccini disse...

bonito isso,
muito bonito.

maraca marca, sem dúvida.

abraços.

Matheus Marques disse...

"Maraca marca" ficou poeticíssimo. rs

Mandinha_BHz disse...

Nossa, que texto show! Ainda não conheço o RJ, mas quando conhecer, com certeza o maraca vai estar no meio das visitações turísticas!

Carlos Henrique Vólaro disse...

E só agora minha irmã me diz que publicou o texto. Eu mesmo tinha até apagado ele daqui. Quando ela me pediu um texto sobre o Maracanã e eu fiz esse, ela disse: "hmmm, não. Muito poético, irmão". Achei que estava em alguma lixeira virtual.

Mas.. que bom que gostaram. Sempre que quiserem algum textinho, é só falar.

Saudações tricolores. =)