Depois de um longo inverno sem escrever nada por aqui, volto com dois temas que povoam o futebol atualmente. Primeiro vou falar da tal estrutura que tanto se fala.
Antigamente o treino dos atletas em pouco se distanciava do treino dos militares com corridas, polichinelos, abdominais. Com o tempo a exigência das partidas foi aumentando, os jogadores hoje correm muito mais por partida do que corriam há 40 anos, a tecnologia evoluiu, os treinos se aprimoraram e as lesões aumentaram. Você já deve ter visto críticos perguntarem por que os jogadores atuais reclamam de dois jogos por semana quando antigamente não tinha esse problema. A resposta pode estar no tanto que se corre por partida atualmente. O aprimoramento físico dos atletas fez até com que o campo parecesse diminuir e hoje se fala no fim do impedimento e até na redução de 11 para 10 em cada time a fim de aumentar esse espaço.
Para manter esse aprimoramento técnico se faz hoje necessária a tal estrutura, mas o que seria essa estrutura. Perguntando e lendo sobre o assunto chego à conclusão que essa estrutura consiste num centro de treinamento com academia (das melhores), sala de fisioterapia, posto médico, vestiário ultramoderno e alguns campos. Sim, alguns porque treinos seguidos das várias categorias do clube detonariam o campo de treino. Mas será mesmo que um clube precisa disso tudo pra ser campeão?
Temos atualmente um exemplo bem interessante sobre o tema, o Fluminense. Após o título brasileiro do Flamengo em 2009, se falou que essa história de que era preciso estrutura e organização para ser campeão era balela, o Flamengo com toda aquela zona mostrou que futebol se ganha no campo, não no CT. No ano seguinte o Fluminense trouxe o técnico tricampeão brasileiro com o São Paulo, Muricy Ramalho. A imprensa paulista falava disso como um absurdo, como se o Fluminense e o futebol do Rio não fossem lugar para Muricy, que era areia demais para o caminhãozinho tricolor, que o Muricy não teria como treinar um clube sem estrutura. Esquecem que o Fluminense é um clube muito maior do que qualquer técnico, que clubes fazem técnicos e glórias, não o contrário. O tricolor conquistou o título de 2010 e parte da imprensa e da torcida colocou o mérito na conta do técnico, o Fluminense tinha um "timinho" que ele conseguiu fazer campeão.
Chega 2011, a torcida trata Muricy como mito, o time vai mal na Libertadores. O técnico diz que mata-mata é sorte, justificativa para ele nunca tenha ganho o torneio da Conmebol. Ele larga o time com apenas dois pontos em três jogos, diz que a estrutura que lhe foi prometida não estava nem no começo e que havia ratos nas Laranjeiras. O clube quase se ajoelha pedindo desculpas, a torcida diz que o único rato foi embora. Vários técnicos recusam a oferta tricolor para dirigí-lo sem considerar até que seria confortável ser eliminado na Libertadores pois a canoa já estava fazendo muita água e o naufrágio dificilmente seria atribuido a eles. Esperando por Abel Braga o Fluminense coloca o interino Enderson Moreira para comandar o time. Enderson QUEM??? Pois é, o interino chegou com todo o conforto do mundo. Se perdesse tudo não teria culpa, era só o interino, qualquer vitória seria milagre e de cara ele opera um ao vencer o América do México de virada no Engenhão com atuação decisiva de dois jogadores que ele colocou em campo. A partir daí ele coloca o time em primeiro lugar no seu grupo no Campeonato Carioca e, com um milagre, se classifica para as oitavas da Libertadores. Ontem o Fluminense ganhou por 3x1 do Liberdad do Paraguai e tem grande chance de passar às quartas de final.
É aí que eu pergunto, cadê a porcaria de estrutura que era tão necessária pra fazer um time? O que mudou da saída de Muricy até hoje? Caiu um CT do Céu nas Laranjeiras? O Barcelona está vestido de Fluminense e o Conca na verdade é o Messi disfarçado? É tudo argentino mesmo, quem sabe? Enquanto isso o Muricy chega ao Santos com um time pronto, com dois craques, coisa rara no futebol brasileiro atualmente, e diz que lá ele pode voltar a vencer. Na boa, assim até eu!
Não nego que a estrutura seja importante mas já foi dito que se concentração ganhasse jogo, o time do presídio era invicto e que se macumba desse certo o campeonato baiano terminava empatado. Eu digo que se estrutura ganhasse campeonato o campeão era o time da construção civil.*